Um Dedo de Prosa
Crônicas
O Mineirão na lembrança

O Mineirão na lembrança

Nasci em Belo Horizonte em uma família fanática por futebol, como a grande maioria das famílias brasileiras. Meu pai, apesar de todos os seus irmãos mais velhos serem cruzeirenses, é torcedor do Atlético e eu, como uma boa filha, já nasci torcendo para este time. Desde pequena frequentava o Mineirão. Adorava ir ao estádio, ver todas aquelas pessoas torcendo pelo Galo e quando esse fazia um gol parecia que o Mineirão ia cair. Como o estádio tremia, principalmente em dia de clássico! Eu ficava admirada de ver o teto balançar, devido à movimentação nas arquibancadas. O Mineirão tinha também as suas tradições como o famoso tropeiro, saboreado por muitos torcedores, além das entradas e lugares diferenciados para os torcedores do Atlético, Cruzeiro e América. Eu como atleticana, em dia de clássico, nunca me atrevia a ir para o Mineirão pela Avenida Catalão, caminho dos cruzeirenses, ia sempre pela Avenida Antônio Carlos, travessia dos alvinegros.

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Foto: GilbertoSilvaFran/Wikipédia

Mas agora com as reformas do estádio para a Copa do Mundo de 2014 a questão que me coloco é se o estádio não vai perder completamente as suas características. O Mineirão é um bem tombado pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) e pelo patrimônio arquitetônico municipal. O tombamento tem por objetivo preservar o bem no decorrer dos anos. Sendo assim o bem tombado só pode ser pintado, restaurado ou reparado com a autorização dos órgãos competentes, não podendo, deste modo, ser destruído ou mutilado. No entanto, uma “reforma” como a realizada no Mineirão certamente não vai manter as principais características desse imóvel. Somente o lugar permanecerá o mesmo, o estádio será outro, muito diferente do antigo. As futuras gerações não verão o Mineirão balançar, não conhecerão a ‘geral’, espaço onde o público assistia o jogo em pé, e nem mesmo poderão comer o famoso tropeiro. No novo Mineirão caberão apenas 65 mil pessoas, diferente do antigo estádio que já abrigou 132 mil torcedores. Quando o novo estádio ficar pronto o público não reconhecerá o Mineirão que estava acostumado a frequentar, principalmente aos domingos. Com essa grande obra, que muitos acreditam que trará enormes benefícios, o Patrimônio cultural e histórico de Belo Horizonte está sendo descaracterizado. O Conjunto Arquitetônico e Paisagístico da Pampulha, do qual o Mineirão faz parte, não será mais o mesmo. O uso desse espaço também sofrerá enormes alterações devido ao projeto de se criar no Mineirão um grande complexo de lojas, além da previsão de aumento no preço dos ingressos, que impossibilitará muitos torcedores de frequentar o estádio. Todas essas mudanças no Mineirão provocam em Belo Horizonte, mais uma vez, a perda de parte da memória e das tradições locais. Assim, deixo aqui registrado o meu protesto contra a substituição incessante do velho pelo novo, que estamos tão acostumados a vivenciar na nossa cidade.

Marina Camisasca

14 / Jul / 2013
Marina Camisasca
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